Com o auditório lotado, o Ministério Público do Tocantins recebeu, na noite dessa quarta-feira (29/10), o público para a conferência de abertura do 2º TocantinsTech. O momento inaugural do evento foi conduzido pelo desembargador Marco Villas Boas, diretor geral da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat) e presidente do Colégio Permanente de Diretores de Escolas Estaduais da Magistratura (Copedem), que trouxe ao centro do debate o tema: “Reflexões críticas sobre a Singularidade”.
Equilibrando referências teóricas, experiências pessoais e provocações filosóficas, o desembargador levou o público a pensar para além dos limites técnicos da Inteligência Artificial (IA). Inspirado por autores como Ray Kurzweil, Michel Foucault e Zygmunt Bauman, Marco Villas Boas abordou o conceito da singularidade tecnológica – o ponto previsto em que a IA ultrapassará a inteligência humana, que na visão de Kurzweil ocorrerá em 2045, após a explosão de inteligência artificial prevista para 2029. Em razão disso, a explosão de inteligência não humana já não é percebida como um evento distante, mas como algo provável que já nos influencia, sutil e intensamente.
“A tecnologia não pode ocupar o lugar da consciência humana. Ela precisa estar a serviço da dignidade”, afirmou, ao lembrar que, mesmo diante de algoritmos cada vez mais complexos, é o valor da vida humana que deve permanecer como medida ética para o uso das ferramentas que desenvolvemos.
Em tom reflexivo, o desembargador também abordou os impactos do capitalismo de vigilância, que se ergueu a partir dos dados residuais dos(as) usuários(as) da internet, destacando que hoje a economia digital já não se baseia apenas na produção de bens, mas também na exploração massiva de informações pessoais.
“Somos utilizados para produzir os dados que alimentam um sistema que transforma comportamento em produto”, pontuou.
Durante a palestra, Marco Villas Boas compartilhou impressões sobre experiências acadêmicas internacionais, como a visita à Universidade de Macau, na China, onde conheceu centros avançados de pesquisa em IA. A menção serviu de pano de fundo para uma provocação mais ampla sobre qual modelo de futuro estamos construindo.
“Precisamos pensar um progresso que não concentre poder, mas o distribua; um progresso que fortaleça a sociedade, e não apenas o Estado”, defendeu.
Reconhecimento e presença institucional
A Mesa de Abertura do evento contou com a presença de autoridades das esferas jurídica, acadêmica e governamental. A procuradora de Justiça Maria Cotinha Bezerra Pereira destacou a visão de futuro e o engajamento do diretor geral da Esmat:
“O desembargador Marco Villas Boas é um visionário. Sua dedicação ao Tocantins e sua liderança no diálogo entre tecnologia e Justiça são motivos de orgulho para todos nós”.
Já a reitora da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Maria Santana, reforçou a importância das universidades na produção e na democratização do conhecimento, destacando a parceria desenvolvida com a Esmat no mestrado e doutorado em Governança e Transformação Digital (PPGGTD), bem como em pesquisa científica, a exemplo do Laboratório Interdisciplinar de Inteligência Artificial (LIIARES) instalado na Esmat. Além disso, anunciou a abertura de um curso novo de graduação em Inteligência Artificial no câmpus de Palmas, o que contribuirá para o desenvolvimento de novas tecnologias e inovação no estado do Tocantins.
Representando o governador do Estado, Afrânio Vilar de Carvalho reafirmou o compromisso da gestão com a transformação digital e a inovação pública. “A tecnologia é um caminho para mais eficiência, menos burocracia e mais resultados para o(a) cidadão(ã)”, afirmou.
O presidente da Associação dos Servidores Públicos de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Tocantins (AsticTO), Leonardo Barcelos, também destacou a proposta descentralizadora do evento: “A inovação não é privilégio de regiões desenvolvidas. É aqui, no coração do Brasil, que estamos construindo um ecossistema tecnológico vibrante, atuante e transformador”.
A programação seguiu com a conferência “Disrupção: o que acontece quando tecnologias se unem para redesenhar o mundo?”, ministrada pelo neurocientista Leandro Mattos, especialista em inteligência artificial e CEO da Cognisigns. Encerrando a noite, os(as) participantes foram convidados(as) para um coquetel de integração e networking.
Sobre o evento
O TocantinsTech é promovido pela AsticTO, com apoio da UFT e do MPTO. A programação segue até sexta-feira (31/10), reunindo especialistas, pesquisadores(as) e servidores(as) públicos(as) em painéis, apresentações de cases e mesas de debate sobre temas como Cibersegurança, Inteligência Artificial e Transformação Digital no Setor Público.
O Poder Judiciário Tocantinense também marca presença com a apresentação de dois cases: o Sistema Eproc, apresentado pelo servidor Ângelo Stacciarini Seraphin, e a ferramenta Giseli – Correição Inteligente –, apresentada por Harly Carreiro, ambos trazendo soluções já aplicadas que aliam inovação, automação e eficiência processual.
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