Polícia Militar encontrou um botijão de gás que seria utilizado para asfixiar os agentes e explodir o local
Há menos de três meses à frente da delegacia regional de Camocim, há 353 km da capital Fortaleza, o delegado regional Adriano Zeferino de Vasconcelos já tinha sido informado por colegas próximos sobre possíveis ameaças do inspetor Antônio Alves Dourado, suspeito de matar quatro policiais — três deles enquanto dormiam. “Há quatro dias que eu estou andando de colete para cima e para baixo”, disse. Ao ser questionado pela reportagem da Jovem Pan por que não indagou o funcionário sobre as possíveis ameaças, o delegado disse que não queria afrontá-lo e que já tinha programado uma possível a transferência. “Não tinha mais clima. Ele não dava trégua aos colegas. Afrontava e queria me derrubar a qualquer custo.”
Segundo o delgado, Dourado sempre se mostrou muito problemático nas delegacias por onde passou. “Sempre queria atuar do jeito dele, e não é assim que funciona no serviço público. Não aceitava cumprir escalas pré-programadas e simplesmente dizia: ‘Não vou fazer’”, relembra o delegado, que já tinha trabalhado com o suposto assassino em outro município. Vasconcelos não tem dúvidas sobre a premeditação do crime. “Não tem nada de surto. Ele preparou tudo para explodir a delegacia. Encontramos máscaras de oxigênio no poder dele, porque ele planejou matar alguns policiais asfixiados e pretendia ficar escondido na delegacia até amanhecer. Assim que ocorresse a troca de plantão, o alvo seria eu. O alvo principal, inclusive. Não entendo porque tanto ódio”, lamenta o delgado, que perdeu quatro colegas no massacre. “Ele não me matou, mas tirou a vida de policiais excepcionais, exemplares, pais de família, homens trabalhadores, do bem, alegres, vão deixar saudades a toda comunidade da nossa região.”
Em um vídeo, gravado pelo próprio acusado, ele confirma a autoria da chacina. Antônio Alves Dourado, conhecido como inspetor Dourado, matou a tiros e sem chance de defesa, quatro policiais que faziam o plantão da delegacia na madrugada de domingo. As vítimas são os escrivães Antonio Claudio dos Santos, Antonio Jose Rodrigues Miranda e Francisco dos Santos Pereira, além do inspetor Gabriel de Souza Ferreira. Segundo informações da guarnição da Polícia Militar do Ceará que atendeu à ocorrência, por volta das 4h40 da madrugada de domingo, Dourado chegou em uma moto, pelos fundos da delegacia, pulou o muro e foi para o andar de cima da delegacia (térreo e primeiro andar). A defesa afirma que o suspeito está em estado de choque e, por isso, ainda não falou com ele sobre o assunto.
Lá, o assassino se surpreendeu com um plantonista que fazia a segurança do restante da equipe. Antonio Claudio dos Santos possivelmente foi o primeiro a morrer. Assustado, o inspetor tentou fugir do atirador, pulou para o térreo e quebrou o braço. Mesmo ferido, tentou abrir o portão da delegacia para fugir. O assassino correu na direção da vítima e a matou pelas costas. Depois, seguiu para os dormitórios, no térreo da delegacia, e atirou contra três policiais que dormiam em redes, onde os corpos foram encontrados. Segundo policiais civis ouvidos pela reportagem, Dourado andava estranho ultimamente e sempre tentou criar problemas. “Ele era um cara calado, problemático e reclamava de tudo e todos, falava muito mal do delgado pelas costas. Queria colocar toda a equipe contra o titular da delegacia, relata um colega, que pediu para não ser identificado. Questionado se ainda vai continuar à frente da delegacia regional de Camocim, o delegado Adriano Vasconcelos diz que ainda não parou para pensar no futuro. “Agora é hora de confortar os familiares dos meus colegas de trabalho e manter viva e digna a memória de cada um deles que se foram.”
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