Brasil tem mais de 65 mil refugiados, aponta levantamento


Especialistas apontam que, mesmo com leis que facilitem a entrada, o país não consegue integrar corretamente os refugiados na sociedade

Reprodução/Jovem Pan NewsRefugiados Brasil
O mercado de trabalho é restrito para os imigrantes, mesmo que tenham qualificações certificadas nos países de origem; em geral, as ofertas são de empregos com pouca remuneração

Um levantamento do Comitê Nacional para Refugiados e da agência da ONU(Acnur), mostra que o Brasil tem mais de 65 mil pessoas reconhecidas como refugiadas. O relatório foi apresentado nesta semana e mostra que a nação que lidera o ranking de solicitações de refúgio é a Venezuela, com mais de 2.200 pedidos. Em seguida vem Cuba, com mais de mil solicitações de refúgio. Um desses 65 mil refugiados é Cedic Cones, que saiu da Guiné há sete anos por problemas familiares e encontrou um lar no Brasil. Ele destaca que o começo não foi fácil, mas que hoje sonha em trazer sua família. “Quando eu cheguei aqui no Brasil, primeira vez no aeroporto, eu fiquei lá, não sei, cinco ou seis dias no aeroporto. A partir de lá, se que me aceitou de entrar e depois, para renovar meu documento, foi mais fácil, porque eu fui à Polícia Federal, eles me dão protocolo. […] Quero trazer minha família para cá, se Deus quiser”, afirma Cedic.

O Brasil tem leis que facilitam a entrada de imigrantes e refugiados. Mas na prática, absorver essas pessoas com qualidade de vida tem sido um desafio para as autoridades. É o que destaca a coordenadora de acolhimento e proteção no Instituto de Reintegração do Refugiado, Larissa Teixeira. “A legislação migratória brasileira é muito bonita na teoria, mas na prática a gente sabe que não. Não existem políticas públicas direcionadas ainda, até os dias atuais, para essa população. No que se refere a nível municipal de São Paulo, também é muito difícil. Existe um conselho municipal de imigrantes, mas que ainda não desenvolveu políticas públicas específicas, então nós identificamos realmente graves problemas no que se refere ao acolhimento”, diz Larissa, que conclui: “O Brasil recebe essas pessoas, mas ele não acolhe, não coloca essas pessoas de forma integrada na sociedade”.

O mercado de trabalho é restrito para os imigrantes, mesmo que tenham qualificações certificadas nos países de origem. Chegando aqui, as ofertas são de empregos com pouca remuneração. Países da Europa que lidam com a imigração de forma mais intensa têm tentado contornar a situação. A Alemanha, por exemplo, tem um ministério próprio para a temática. Igor Lucena, especialista em relações internacionais, acredita que ter uma pasta aqui no Brasil não é a solução, mas defende a criação de um órgão que consiga interligar de forma mais efetiva a União, estados e municípios. “Tem que existir uma espécie de coordenação tripartite entre as três esferas de poder, mas ao mesmo tempo tem que ter uma linha de trabalho transversal. Do ponto de vista de saúde, do ponto de vista de doenças, do ponto de vista de capacitação profissional, inclusive do ponto de vista de ajuda financeira a essas pessoas, integração dentro do sistema financeiro nacional, dentro das escolas para as crianças”, explica Lucena.

A língua também é um dos principais entraves para os imigrantes, mas para o oficial de comunicação do Acnur, Miguel Pacchioni, a questão pode também ser vista por uma outra ótica. “É também um potencial. Então são pessoas poliglotas que estão chegando no Brasil. O mercado de turismo, por exemplo, tem muito a usufruir desse amplo conhecimento das pessoas, tanto de vivências, de experiências, mas também dos seus idiomas e que facilita muito a troca de informação com quem busca vir ao Brasil como turistas para conhecer”, afirma. A lei brasileira, baseada em normas internacionais, entende que refugiados são pessoas que saem do país por motivos de perseguição, seja ele de cunho político, social ou religioso.

Confira a reportagem na íntegra:

*Com informações da repórter Camila Yunes





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