Quilombolas do Jalapão têm acesso a serviços de saúde e cidadania durante o mutirão do TJTO e da Justiça Federal


“Eu ia gastar mais de R$ 5 mil para ir até Barreiras, na Bahia, para os exames e consultas que consegui fazer aqui.” O desabafo é de Jardilene Alves Batista, moradora da comunidade quilombola Rio Galhão, localizada a 33 quilômetros de Mateiros. Ela trouxe a mãe, Dona Amélia Pereira Batista, de 79 anos, para participar dos atendimentos do mutirão “Justiça Cidadã no Cerrado”, ação coordenada pela Justiça Federal, com participação destacada do Comitê Pop Rua Jud do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO).

Os atendimentos, que seguem até esta quarta-feira (22/10), levam serviços essenciais de saúde, documentação e orientação jurídica a moradores de comunidades tradicionais e áreas isoladas do Jalapão, regiões onde o acesso a serviços públicos é limitado pelos desafios geográficos.

Acostumada a viajar 370 quilômetros até Barreiras para pagar por atendimentos particulares, Jardilene conta que o mutirão representou economia e alívio. A mãe dela, Dona Amélia, saiu do mutirão com uma verdadeira maratona de cuidados concluída: passou por consulta oftalmológica, oferecida pelo Pop Rua Jud, em parceria com a Clínica Yano e a Receita Federal, que cedeu óculos de grau apreendidos em fiscalizações; atualizou a certidão de nascimento e o RG; verificou a glicemia; e ainda escolheu peças no Varal Solidário, outra iniciativa do comitê do TJTO.

Família de Amélia Batista comemora economia de uma viagem à Bahia

“Eu consegui fazer tudo que podia fazer aqui e fico muito agradecida e quero que ainda venha outra vez, pois o que estão fazendo é mais que caridade”, agradeceu Dona Amélia.

A logística para trazer os(as) moradores(as) das áreas mais remotas é um dos desafios vencidos pela organização. “Fomos buscadas em casa e vão nos levar depois da refeição, deu tudo certo”, confirmou Jardilene.

“A gente não tem medo de denunciar”

Além da saúde e documentação, o mutirão leva informação sobre direitos, com foco especial nas mulheres, por meio da roda de conversa sobre violência doméstica, a cargo da Ouvidoria e da CEVID do TJ. O atendimento recebeu destaque de Laudeci Ribeiro Souza Monteiro, artesã e líder quilombola da comunidade na região do Rio Galhão e da Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros (ACAPPM).

“Para nós, assim, é muito bacana esse serviço, esse despertar nas mulheres. Porque, às vezes, não têm esse conhecimento e passam por situação que acham que é normal e não é normal. E, às vezes, nem sabem por onde procurar seus direitos”, afirmou Laudeci.

A líder quilombola, que representa diversas comunidades, como Carrapato, Cabeça Nova e Galhão, vê a informação como uma ferramenta contra a violência doméstica. “Quando a gente sabe dos nossos direitos, a gente não tem medo de falar, não tem medo de denunciar”, enfatizou. “A gente vê muitas mulheres morrendo e acabam morrendo por quê? Porque ficam silenciadas, caladas em nossos direitos.”

Embora liste demandas estruturais, como apoio à agricultura familiar e dificuldades de acesso à saúde especializada, a exemplo de uma irmã sua que está passando por um processo, precisa de uma cirurgia e está muito difícil conseguir, Laudeci celebrou a diversidade dos atendimentos do Pop Rua Jud. “Os serviços, em geral, foram bem-vindos, porque cada comunidade tem sua prioridade.”

Beloisa Gonçalves da Silva, da comunidade Carrapato, buscou atendimento para toda a família

O sentimento é compartilhado por outras moradoras. Beloisa Gonçalves da Silva, da comunidade Carrapato, conseguiu atendimento para toda a família. “Eu fiz os documentos dos meninos, tudo; passei pela consulta médica, porque tomo remédio controlado; e agora escolhi roupas. Eu gostei demais desse atendimento aqui”, disse.

Júnia Rodrigues Ludovico, da comunidade Rio Novo, também aproveitou os serviços: “Para mim, tudo está sendo bom. Peguei vestuário, absorventes e ainda vou passar pelo médico.”

Ursolina Ribeiro da Silva, artesã de capim dourado da comunidade Mumbuca, destacou o atendimento oftalmológico. “Essa ação aqui é maravilhosa, porque a oportunidade é muito difícil se não receber uma ação dessa e, quando acontece para a gente da comunidade, é uma coisa boa, completa, maravilhosa mesmo.”

Artesã Ursolina Ribeiro, de Mumbuca, durante consulta oftalmológica no Pop Rua Jud em Mateiros

 

 



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