El Niño pode afetar produção agrícola brasileira, apontam especialistas


Efeitos do fenômeno climático responsável pelo aquecimento das temperaturas nas águas do Oceano Pacífico são sentidos de diferentes formas em cada região

Gabriela Biló/Estadão ConteúdoColheitadeira colhe o milho em uma plantação no município de Sorriso, no norte do estado do Mato Grosso.
Colheitadeira colhe o milho em uma plantação no município de Sorriso, no norte do estado do Mato Grosso

Após três anos consecutivos de ocorrência do fenômeno La Niña, que se caracteriza pelo o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, o El Niño, responsável pelo aquecimento das temperaturas no Pacífico, tem influenciado no clima global desde o último mês. No Brasil, os efeitos do fenômeno climático são sentidos de diferentes formas em cada região. No Nordeste, por exemplo, o El Niño pode ser responsável pelo aumento do período de seca e o aumento das queimadas florestais. O fenômeno também pode provocar chuvas mais intensas no Sul do Brasil e um calor atípico na região Sudeste. Em entrevista à Jovem Pan News, Rafael Battisti, secretário da Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, disse que a produção dos cultivos de inverno, como trigo, aveia e cevada, pode ser prejudicada.

“De forma geral, se a gente pegar os cereais de inverno, principalmente o trigo, isso acaba afetando a qualidade, porque a gente vai ter um volume de chuva maior e maior temperatura durante o período de colheita, o que acelera o desenvolvimento de doenças fúngicas, reduzindo a qualidade do produto, o que pode ocasionar uma elevação de preço. Mas, em relação ao preço, a gente tem que estar observando o cenário internacional, como é que vai estar precificando, dadas as regiões do globo que também vão ser afetadas pelo El Niño, de forma positiva ou negativa. Por exemplo, na Austrália a gente tem redução do volume de chuva, enquanto que nos Estados Unidos a gente não tem um grande efeito nas regiões produtoras de grãos”, explicou Battisti.

A agricultura tem sofrido impacto direto devido às mudanças climáticas provocadas pelo homem. O El Niño pode impactar ainda mais na produção dos alimentos. Desde 1961, a produtividade agrícola global teve uma redução de 21%, o que significa perder sete anos de crescimento em produtividade. Felippe Serigati, professor e pesquisador da FGV Agro, explica que ainda é muito cedo para fazer uma projeção dos efeitos do El Niño e, segundo ele, existe um conjunto de fatores que empurram os preços dos alimentos para baixo: “Nós estamos colhendo, finalizando a colheita de uma safra gigantesca, recorde, de grãos, de 310 a 315 milhões de toneladas, e isso por si só já faria o preço cair”.

“O preço está caindo, mas não só por causa da safra recorte, mas porque o dólar está caindo também. E aí você tem um conjunto de fatores empurrando o preço dos alimentos para baixo. Resultado disso, a gente tem visto a inflação desacelerando e, provavelmente, de forma individual, o maior responsável por essa queda da inflação é justamente a redução da inflação dos alimentos”, argumentou Serigati. Ao longo dos anos, a agricultura brasileira acompanhou o El Niño e passou a se adaptar às suas consequências. Na última semana, o planeta Terra registrou o dia mais quente da história, desde que as medições em nível mundial passaram a ser realizadas em 1979. Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, os termômetros registraram uma temperatura média de 17 ºC no planeta.

*Com informações do repórter Victor Moraes





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