Especialistas discutem cuidado, políticas de saúde mental e garantia de direitos no sistema socioeducativo


Cuidado, escuta e responsabilidade compartilhada estiveram no centro dos debates desta quinta-feira (23/10), durante o segundo dia do evento “Interfaces entre Sistema de Justiça, Saúde Mental e Socioeducação: Estratégias para a Garantia de Direitos”, realizado pelo Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO), por meio da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat).

Pela manhã, duas mesas temáticas reuniram profissionais do Sistema de Justiça e da Saúde para refletir sobre o cuidado individualizado em saúde mental, a partir do Plano Individual de Atendimento (PIA) e do Projeto Terapêutico Singular (PTS), e sobre os desafios do monitoramento e da garantia de direitos no sistema socioeducativo.

Na imagem, quatro expositoras participam de uma mesa temática durante o evento. Sentadas lado a lado em poltronas cinza, elas dialogam em um ambiente moderno e acolhedor. À esquerda, duas participantes vestem roupas claras, enquanto a terceira, de blazer vermelho e calça branca, fala ao microfone. A quarta expositora, à direita, veste um vestido preto com detalhes dourados e segura um tablet. Ao fundo, o telão exibe os logotipos.
Jamyle Gonzaga abriu o painel que discutiu o Plano Individual de Atendimento e o Projeto Terapêutico Singular

A coordenadora de Políticas Públicas e Socioeducativas da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do MDHC, Jamyle Maria de Sousa Gonzaga, abriu os trabalhos apresentando o arcabouço legal que orienta o PIA e os principais dados do levantamento nacional do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) de 2024, com foco nas práticas de saúde mental. Ela destacou que o PIA, previsto na Lei nº 12.594/2012 (Lei do Sinase), deve assegurar o direito à educação, à saúde e à escuta ativa do adolescente e de sua família. “A saúde mental precisa integrar o plano desde sua elaboração, com a atuação efetiva das equipes técnicas para garantir resultados reais”, ressaltou.

Na sequência, a professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Juliana Biazzi Feitosa abordou as dimensões estruturais da violência e sua relação com o contexto socioeconômico brasileiro.

Juliana Biazzi é uma mulher branca, de cabelos claros; ela usavestido claro em tons de laranja e está sentada, no palco do auditório.
Juliana Biazzi é professora da Universidade Federal do Tocantins

“É impossível pensar uma sociedade capitalista desatrelada da violência, porque ela se sustenta nas desigualdades e na exploração”, afirmou.

Para ela, compreender essa lógica é essencial para propor políticas públicas transformadoras. Ao tratar do PIA e do PTS, Juliana reforçou seu caráter pedagógico e emancipador: “Não se trabalha o adolescente isoladamente. Ele pertence a uma família, a uma comunidade, e é para lá que ele vai retornar”.

Encerrando a mesa, Cristiana Marina Barros de Souza, do Ministério da Saúde e Fiocruz, explicou que o PTS é uma ferramenta central do cuidado em saúde mental e destacou que a ética do cuidado se baseia na escuta e na construção conjunta. “A tecnologia leve está no diálogo com o sujeito, na construção compartilhada do Projeto Terapêutico Singular”, pontuou.

Cristiana é uma mulher branca de cabelos claros e usa uma roupa branca; ela está sentada no palco do auditório, durante palestra
Cristiana Marina Barros de Souza, do Ministério da Saúde e Fiocruz, explicou que o PTS é uma ferramenta central do cuidado em saúde mental

A mediação foi conduzida pela defensora pública Elisa Maria Pinto de Souza Falcão Queiroz, do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Nudeca/DPTO).

 

Monitoramento e garantia de direitos

Ainda pela manhã, a Mesa Temática 4, com o tema “Monitoramento e Garantia de Direito à Saúde Mental no Sistema Socioeducativo”, trouxe experiências e reflexões sobre governança, empatia e intersetorialidade.

O juiz Afrânio José Fonseca Nardy, da Vara da Infância e Juventude de Belo Horizonte e coordenador do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário (PAI-PJ), compartilhou a experiência de Minas Gerais na construção de políticas de cuidado voltadas a adolescentes em conflito com a lei, ou “sócio-divergentes”, como prefere denominar.

Na foto, três homens participam de uma mesa temática em um auditório. Sentados lado a lado em poltronas cinza, todos vestem terno e gravata, em tom formal e institucional. Ao centro, um dos expositores fala ao microfone, gesticulando enquanto apresenta suas ideias.
Juiz Afrânio José Fonseca Nardy atua na Vara da Infância e Juventude de Belo Horizonte e é coordenador do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário

“Precisamos de todos, construindo estratégias com base no amor”, afirmou.

Ele também destacou a importância da Resolução nº 487/2023 do CNJ, que institui a Política Antimanicomial no Sistema de Justiça, como um marco para o fortalecimento de práticas mais humanas e participativas.

Promotor de Justiça Sidney Fiore, um homem branco de cabelos grisalhos, fala ao microfone durante palestra; ele usa terno escuro e camisa branca
Promotor de Justiça Sidney Fiore Júnior, do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação do MPTO, destacou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei

O promotor de Justiça Sidney Fiore Júnior, do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação (CAOPIJE/MPTO), apresentou a legislação que ampara o direito à saúde mental de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. Destacou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei (PNAISARI), instituída pela Portaria nº 1.932/2014, e defendeu a atuação articulada entre as redes de saúde, educação e assistência social. “A privação de liberdade não pode significar a privação de saúde”, enfatizou.

Defensora pública Elisa Maria apresenta sua fala em pé diante do público, enquanto três homens acompanham atentamente sentados ao lado. Ela segura um microfone e gesticula durante a explicação, tendo ao fundo um grande telão com o título “A Política Antimanicomial e o Poder Judiciário” e trechos da Resolução nº 487/2023 do CNJ.
Defensora pública Elisa Maria Pinto Falcão reforçou o papel da Defensoria Pública

Fechando a programação, a defensora pública Elisa Maria Pinto Falcão Queiroz reforçou o papel da Defensoria Pública na promoção e defesa dos direitos desses adolescentes e destacou a importância da PNAISARI e da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) como instrumentos de garantia de cuidado digno e humanizado. Ela ressaltou que a intersetorialidade é fundamental para romper ciclos de vulnerabilidade e apontou o Plano Individual de Atendimento (PIA) como ferramenta estratégica de gestão.

A mesa foi mediada pelo juiz Deusamar Alves Bezerra, titular do Juizado Especializado da Infância e Juventude da Comarca de Araguaína (TJTO).

 



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