Mostra de cinema leva reflexões sobre cidadania, superação e metas para o futuro na Unidade Prisional Feminina em Palmas 


A 1ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos no Sistema Prisional teve uma estreia promissora, nesta segunda-feira (14/7), na Unidade Prisional Feminina de Palmas, com a exibição de quatro produções.

A iniciativa faz parte da 14ª Mostra Cinema e Direitos Humanos promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e busca humanizar o ambiente carcerário e estimular o pensamento crítico, com a possibilidade de remição de pena para as 14 participantes voluntárias.

O tema central da mostra é “Viver com dignidade é direito humano”. A ação está inserida no programa “Pena Justa”, capitaneado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo explica o juiz Allan Martins Ferreira, titular da 4ª Vara Criminal e Execução Penal de Palmas, que destaca a importância da iniciativa. 

“O sistema prisional brasileiro vive num estado de coisas inconstitucionais e a ideia é fazer com que se movimente para mudar essa realidade e a cultura está dentro de um dos eixos do programa Pena Justa. É levar o cinema, a arte, a cultura para dentro do sistema prisional e aqui, no caso, para a unidade penal feminina; isso é muito importante, muito relevante, por mexer com o ritmo das pessoas, com a consciência das pessoas, para tentar formar uma consciência crítica, porque os filmes são selecionados”.

Segundo o juiz, a ação proporciona uma roda de conversa e um debate em torno dos filmes. “A mostra estimula o pensamento crítico e traz um pouco mais de uma cidadania para essas pessoas que estão segregadas e que, de fato, estão absolutamente isoladas do meio social e do mundo. Então é uma forma de reaproximar essas pessoas para fazê-las pensar um pouco mais no futuro, trazendo um conhecimento que seja útil para elas e que elas possam se valer dele, de uma forma crítica, quando saírem daqui.”

No primeiro dia da mostra, foram exibidos quatro dos treze filmes previstos na programação da capital. Os filmes exibidos foram “Confluências” (documentário sobre cultura quilombola), “Hábito” (filme híbrido sobre superação), “Big Bang” (ficção sobre um rapaz com nanismo que busca o sonho da faculdade) e “Belos Carnavais” (drama musical sobre sambistas de escolas rivais). 

Dilson Rodrigues Noleto Júnior, Gerente de Reintegração Social, Trabalho e Renda ao Preso e Egresso da Secretaria da Cidadania e Justiça (Seciju), responsável por mediar os debates, compartilhou a receptividade das participantes e destacou que houve identificação imediata com as temáticas. “Cada filme a gente abordava aspectos complexos, mas cada uma se identificou e se dispôs a falar”, relatou.

“A questão de ter um sonho abordado no terceiro filme, ‘Hábito’, levou elas a falarem também das perspectivas que elas têm de futuro e da importância de ter uma meta para quando saírem. E também da mulher negra, abordada no primeiro filme, da mulher preta, quilombola, que tem seus ‘corres’, suas dificuldades. Elas se identificaram muito. Nós estamos com uma aceitação muito boa”.

Entre as reeducandas a repercussão também é positiva. Uma delas, durante roda de conversa com o juiz, servidores do Judiciário, e o mediador da Seciju, resumiu os três filmes que mais a tocaram.

“O primeiro, ‘Confluências’, eu gostei porque mostra a cultura de uma área quilombola, o estilo de vida, das dificuldades. O segundo, ‘Habito’, é de superação, aprendi que mesmo em meio à dificuldade, a gente não pode desistir de nossos objetivos. Já o terceiro, ‘Big Bang’, o rapaz [com nanismo] tinha uma dificuldade de ingressar na faculdade e mesmo assim não parou de tentar seu objetivo, seu sonho de chegar onde ele queria, indicando que, ao seguir em frente, deu certo. Então é isso, eu adquiri um pouquinho de um guia de superação em todos os filmes.”

Outra reeducanda expressou como os filmes a impulsionaram neste momento. “O que mais me chamou a atenção da mostra é me despertar para eu adquirir mais conhecimento e me dar uma resposta sobre o empoderamento. Os filmes mostram muita dificuldade que nós brasileiras passamos.”

Programação

A mostra em Palmas continua nesta terça-feira (15/7), das 9h às 12h e das 14h às 17h, na Unidade Penal Feminina. As mulheres privadas de liberdade irão assistir mais nove filmes no segundo dia de programação. 

A iniciativa também terá sessões na Unidade de Tratamento Penal de Cariri (masculina) nos dias 17 e 18 de julho, nos mesmos horários, com a participação de 30 internos. Ao todo, a 14ª Mostra Cinema e Direitos Humanos será realizada simultaneamente em 54 unidades prisionais de todos os 26 estados e do Distrito Federal, alcançando mais de 5 mil pessoas privadas de liberdade.

Filmes do 1º dia da mostra – UFP

Confluências, dirigido por Dácia Ibiapina (Documentário 26′ | PI | 2024)
Habito, com direção de Fernando Santos (Híbrido | 18′ | AL | 2023)
Big Bang, de Carlos Segundo (Ficção | 15′ | RN | 2022)
Belos Carnavais, de Thiago B. Mendonça (Drama musical | 16′ | SP | 2020)



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