O SIM de 31 casais que prometeram que “amar é mudar a alma de casa”

Quantos sentimentos cabem em um sonho? Tristeza, alegria, frustração, vitória, coragem, medo, determinação, ausência. E quando esse sonho envolve o amor, família? Seria como o texto do poeta Mário Quintana “Amar é mudar a alma de casa, é ter no outro, nosso pensamento. Amar é ter coração que abrasa, amar, é ter na vida um acalento.”

Aos versos do considerado poeta das coisas simples, 31 casais da Comarca de Porto Nacional realizaram o sonho de oficializar a união, nesta sexta-feira (17/5) na quinta edição do Casamento Comunitário, uma iniciativa do Poder Judiciário do Tocantins por meio do Centro Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc).

Nas expressões de alegria, nos olhares apreensivos, nas lágrimas que escorriam no rosto, no buquê, na aliança, nos retratos de familiares, nas lembranças guardadas no coração, homens, mulheres, crianças testemunharam casais se comprometerem a, como diz Quintana “Amar, é aquilo que embasa, é ter comprometimento. Amar é, voar sem asa,
e porque amar é acolhimento”.

A Edilene Batista de Souza, 40 anos, e o Raí Rocha de Souza, 29 anos, resolveram deixar o status de namorados de lado para se tornarem marido e mulher. Procuraram o Fórum de Porto Nacional e ficaram sabendo do Casamento Comunitário. Conseguiram levantar a documentação e, para o grande dia, vestido de noiva, terno e gravata e dama de honra. “Estou muito nervosa, suando frio. É um momento muito bom na nossa vida, realizar um sonho, né? É muito maravilhoso”.

Sonho realizado também para o lavrador Paulo Marques e a dona de casa Jessilene que chegaram unidos por uma história de amor que perdura há 25 anos. “É um sonho meu de muito tempo. Sempre tinha uma dificuldade, né? Não estava preparado e a preocupação com os filhos também que estavam pequenos. E aí o tempo vai passando”, observou Jessilene.

E com oportunidades não se pode deixar passar, Edilene e Raí, Paulo e Jessilene aproveitaram. E o melhor, realizaram o sonho sem custo. “Tem muita gente que, às vezes, está necessitando até mais, né? Não tem condição pra pagar aqui um casamento. Aí essa oportunidade também ajuda, né?

Oportunidade que a Hellysa Neres Corrêa e o Romário Henrique Rodrigues Bandeira agarraram já nos últimos minutos. Há sete anos juntos, conseguiram participar do Casamento Comunitário por conta da desistência de um outro casal. Com o pequeno Miguel de 5 anos e um bebê na barriga realizaram um sonho que começou ainda com a mãe dela, mas que ficou guardado na gaveta, depois que a mãe dela faleceu. Mas como dia foi de alegria, lágrimas somente de saudade e de lembranças.

Convidados ilustres

O casamento foi celebrado pela juíza de paz Priscila Cerqueira da Cruz que lembrou aos casais a importância do casamento. “O casamento é um ato legal amparado pelo nosso Código Civil e a lei traz deveres e não obrigações. Por que não obrigações? Porque o casamento não é obrigado. Vocês não estão aqui hoje obrigados, vocês estão por livre, espontânea vontade. Por isso que a lei fala deveres. E quais deveres são esses? É o dever.de amar, é o dever de respeitar, é o dever de zelar, cuidar, amparar, prover e principalmente fidelidade recíproca.”

Presente também na cerimônia, o juiz coordenador do Cejusc Porto Nacional, Ciro Rosa reafirmou o trabalho social realizado pelo Judiciário tocantinense, por meio do Casamento Comunitário. “Tanto o CNJ, quanto o Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins estão levando essa dignidade da pessoa humana que os senhores têm, que está previsto na Constituição da República. Os senhores hoje têm esse direito de ter essa solenidade, de estar casado, de mostrar a certidão de casamento”, disse, complementando “A justiça, hoje, vai até o cidadão(ã). Ela não está mais esperando o cidadão(ã) vir. E é o que nós estamos fazendo aqui.”

Representando a corregedora-geral da Justiça, desembargadora Maysa Vendramini Rosal, a coordenadora da Cidadania da CGJUS, Odete Almeida falou da emoção de ver 31 casais dizendo o tão sonhado SIM. “E confesso que estou muito emocionada, agradecida a Deus por poder participar deste momento. Normalmente, a gente sabe, o dia do casamento de um casal apenas é dia de alegria para a família, para os noivos, para os amigos, todos os familiares, agora, imagina quanta energia boa, quanta energia positiva hoje, no casamento de 31 casais? Então é uma honra, é uma alegria.”

A juíza reafirmou também sobre o papel do Judiciário no fortalecimento da cidadania. “Quando as instituições se unem, quando as pessoas se unem seja para fazer o bem individualmente, seja para fazer o bem comum. O que a gente vê, o que a gente presencia, é a expressão realmente da entrega da cidadania às pessoas. Hoje o Poder Judiciário não é mais estático. O Poder Judiciário tem uma responsabilidade social muito grande e é uma honra, reitero, uma alegria poder participar desse momento.”