Poder Judiciário do Tocantins promove campanhas solidárias e se aproxima cada vez mais do cidadão
São 5h30, o dia ainda nem clareou totalmente e Adercilia Dias de Oliveira, 56 anos, já está pronta para mais um dia de trabalho na cidade de Caseara, localizada na margem direita do Rio Araguaia e distante cerca de 260 km da capital Palmas. Dali em diante, ela inicia seu trabalho como gari, função que desempenha há 18 anos.
Ao retornar para casa, no final do dia de trabalho, Adercilia começa a limpar e separar em garrafas alguns materiais que recolheu durante o serviço. São lacres de metal e tampinhas de plástico, que em vez do lixo, terão um destino especial. Entre a rotina diária de mãe, avó e esposa, além da dedicação ao trabalho de quase duas décadas de gari, que impacta diretamente no bem-estar da população de Caseara, Adercilia Dias ainda arrumou tempo para mais essa missão. Com o material que recolhe, por meio do Poder Judiciário do Tocantins, ela ajuda pessoas que precisam de tratamento contra o câncer.
Por meio da amiga Dina – Osvaldina da Silva Barros -, que é servidora da Comarca de Araguacema, Adercilia Dias conheceu a campanha de arrecadação de tampinhas e lacres do Hospital de Amor, que transforma esse material em recursos que ajudam na melhoria das instalações das unidades espalhadas pelo Brasil e na compra de itens para estruturá-las. A partir disso, tudo que ela coleta, limpa e separa em Caseara, é enviado para Araguacema, onde a comarca da cidade tem um dos pontos de coleta dos materiais da campanha, que com o tempo são destinados à sede do hospital em Palmas.
Para Ardecilia, conhecer a campanha e saber do impacto da sua contribuição a tocou de uma forma especial, já que ela perdeu familiares para o câncer.
“Quem já perdeu pessoas queridas para o câncer sabe o quanto ter qualquer tipo de apoio é importante. Perdi minha mãe e minhas irmãs para essa doença, por isso temos que pensar em como ajudar as pessoas que estão passando por isso. Eu nunca fui até lá (hospital), só ouvi falar, mas sei que eles precisam de muita ajuda com as doações. Eu não tenho condições de doar com outras coisas, então dou o que posso, o que consigo juntar”, explica a gari, que afirma ainda que conta com ajuda de um outro amigo para juntar os lacres das latinhas.
Ardecilia diz ainda que a rotina de recolher as tampinhas e lacres passou a ir, além do trabalho e virou uma espécie de “mania”. “Eu já estou com a mania de recolher as tampinhas e os lacres. Todo lugar que eu ando e vejo algum material já pego e guardo. É engraçado, pois já faço isso naturalmente. Quero continuar juntando cada vez e conseguir ajudar muitas pessoas que passam por o sofrimento dessa doença. Eu ajudo daqui e elas lutam de lá”, comenta.
Enedina Reis junta materiais recicláveis e encaminha ao TJTO para doação
Sabedoria de décadas
A dona Enedina Reis de Souza, 83 anos, nasceu no Maranhão e bem pequena mudou-se com os pais para Nova Olinda, norte do estado. Na época, o meio de transporte foi um jumento. Filha mais velha de 12 irmãos, casou-se cedo, teve oito filhos, e vive em Araguaína há mais de 50 anos.
Vivendo no interior do Brasil e esbanjando sabedoria, ela nunca precisou entender de teorias de sustentabilidade, acessibilidade para fazer sua parte por um mundo melhor. A atitude simples de separar lacres de latas e tampas, segundo ela, faz a diferença para a natureza e, também, para quem depende dos materiais para sobrevivência.
“Chegava na casa da Adriana e da Kézia (filhas) e as latinhas estavam no lixo. Eu tirava do lixo, limpava e colocava pra separar, porque as pessoas que precisam vão catar lá no lixo e eu não gosto”, diz, acrescentando que hoje junta e encaminha todo o material para Palmas para ser doado ao Tribunal de Justiça do Tocantins e destinado ao Hospital do Amor.
“Eu peço pros vizinhos, pros amigos pra juntar tampinha e trazer pra mim. Vejo os meninos jogando lixo na rua, vou lá, pego e tiro a tampa. É um ato de amor, uma maneira, vontade de ajudar.” Com mais de oito décadas de vida, dona Enedina dá conselhos. “Muita gente pode fazer isso, ao invés de jogar no lixo. Coloca um balde e deixa juntando em casa, quando passar alguém que precise, você entrega”.
Poder Judiciário conta com pontos de coleta nas comarcas
O Poder Judiciário do Tocantins conta com pontos de coletas espalhados por suas unidades, entre elas a sede do Tribunal de Justiça do Tocantins, a Corregedoria-Geral da Justiça (CGJUS) e Escola Superior da Magistratura (Esmat). Com a ajuda das donas Adercilia, Enedina e de muitas outras pessoas, em 2022, os pontos de recebimento dos materiais arrecadaram 423 kg de tampinhas e lacres de metal. No dia 26 de junho de 2023, 326 kg de tampinhas pet e lacres de alumínio arrecadados, em diversas comarcas do Estado e também na Capital, foram doados ao Hospital.
Estrutura
A unidade do Hospital de Amor em Palmas está localizada em uma área de 50 mil m² e quase nove mil de construção estão prontos. A estrutura conta com blocos que dividem cada tipo de atendimentos, as cores são usadas para facilitar a identificação de cada local e toda material usado é de excelência segundo o Engenheiro Civil e o gestor responsável do hospital em Palmas, Gustavo Ruza, que vive há dois anos na capital tocantinense e trabalha em função das obras da unidade.
O gestor conta que, quando estiver em pleno funcionamento, a unidade deve ter certa de mil profissionais em ação e explicou um pouco sobre como é o atual funcionamento do hospital em Palmas.
“Hoje a gente faz o diagnóstico de prevenção e, além da nossa unidade fixa em Palmas, que depois de completamente pronta será nossa referência, temos uma unidade fixa em Araguaína e atuamos com três carretas que percorrem todas as cidades do interior do estado. Todos os exames que fazemos nas unidades fixas, a gente também realiza nas carretas. Caso o paciente precise de algum complemento, como biopsia ou ultrassom, ele é encaminhado para nossas unidades fixas, onde podemos realmente fechar o diagnóstico e direcionar o paciente para o tratamento”, pontua.
Ruza ressalta ainda que a unidade tem se estruturado para aumentar a parte do tratamento dos pacientes. “Em abril a gente começou a parte de hormonioterapia em Palmas também. Estamos em fase de adequação e com um aumento gradual vamos partir para quimioterapia, então nossa intenção é nos próximos dias começar essa parte de quimioterapia. É importante pontuar que hoje a gente realiza esse tipo de atendimento com os pacientes que tratam em Barretos e eles migram para Palmas, conforme as orientações médicas. Ainda não temos uma estrutura para receber pacientes sem essa orientação, mas estamos em processo de adequação para que possamos atender cada vez mais pessoas”, explicou.
Parceria
O atual gestor do hospital comenta ainda sobre a importância dos parceiros e destaca como é fundamental o incentivo do Poder Judiciário tocantinense. “O hospital só consegue crescer graças a todas as parcerias que temos e esse apoio do Poder Judiciário, que é um incentivador com pontos de apoio em várias unidades, nos ajuda a avançar cada vez mais e ter condições de atender mais pessoas. Toda a arrecadação do Judiciário tocantinense é revertida em recursos para investimento na obra. Além disso, a parceria, que gera fins lucrativos, serve de preservação do meio ambiente. O recolhimento dessas tampinhas e lacres e a destinação correta gera um impacto ambiental significativo. Então aqui nos temos ganhos de solidariedade e para o meio ambiente também”, finaliza.
Como ajudar
De acordo com a Cogersa, os pontos de coleta estão distribuídos pelas unidades do judiciário em todo o estado e para doar basta juntar os materiais e destinar a algum desses pontos de coleta, assim como faz a dona Adercilia Dias de Oliveira,a dona Enedina Reis de Souza e muitos outros colaboradores.
Judiciário com foco no social
As ações de solidariedade do Poder Judiciário (PJTO) não se resumem à arrecadação de tampinhas e lacres para o Hospital do Amor. Outra iniciativa voltada à unidade são os Cofrinhos do Hospital do Amor. Segundo a presidente da Comissão Gestora do Plano de Logística Sustentável (PLS) e vice-presidente do TJTO, a desembargadora Ângela Prudente, essas e outras iniciativas visam romper as barreiras que associam o PJTO a uma estrutura tradicional, secular e inacessível aos olhos da sociedade.
“Temos repensado nossos modelos de gestão e adotado uma postura que nos aproxime dos jurisdicionados, sendo sensíveis aos problemas sociais e desenvolvendo práticas que nos conectem com o que há de mais importante: as pessoas”, afirma a desembargadora.
A desembargadora ressalta ainda que pensando nessa conexão com as pessoas, os cidadãos, o Poder Judiciário, por meio da Comissão Gestora do Plano de Logística Sustentável em parceria com a Coordenadoria de Gestão Socioambiental e de Responsabilidade Social (Cogersa), tem pensado e implantado projetos com enfoque ambiental, mas que também “promovam a cidadania e a inclusão social, boas práticas que incentivam a solidariedade entre nossos magistrados, servidores e colaboradores na construção de um mundo mais justo, sustentável e solidário”.
Fazendo a diferença
Além da ação em prol do Hospital do Amor, entre os anos de 2020 e 2022, foram doadas cestas básicas para Associação de Pessoas com deficiência e para catadores de resíduos, igrejas, crianças carentes e Fazenda da Esperança, inclusive, foi criado o projeto Parceria Solidária, que possibilitava desconto em folha dos servidores e servidoras do TJTO para compra dos alimentos.
Houve ainda a arrecadação de itens de higiene pessoal para a Liga Feminina de Prevenção e Combate ao Câncer de Palmas e para mulheres reeducandas de unidades prisionais do Estado, além de roupas, agasalhos para famílias indígenas e de fraldas geriátricas e outros itens para idosos do abrigo João XXIII, em Porto Nacional.
Neste contexto social, existe ainda o projeto permanente de coleta seletiva solidária, com doação aos catadores de resíduos. Já entre as ações periódicas, estão a Feiras das Manas e da Liga Feminina de Combate e Prevenção ao Câncer de Palmas, a doação de livros, inclusive para reeducandos (as), com o intuito de incentivar a uso da leitura, como ferramenta facilitadora para reintegração social possibilitando que os participantes tenham a remição da pena.
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